terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Algo do Nada



Anne Spring

Padre Luis Cordero Rodríguez desfrutava de seus últimos minutos a sós enquanto terminava seu almoço em um restaurante de classe alta, num bairro abastado de Lima, Peru. Quando pensava em seus compromissos da tarde, foi interrompido por um menino esfarrapado, que o observava lá na entrada, e que finalmente tinha tomado coragem para abordar o padre. O menino de pele escura não estava vendendo doces nem cigarros, como muitos meninos pobres de sua idade no Peru e em outros países em desenvolvimento. Em vez disso, perguntou "Senhor, se não for comer o resto da alface em seu prato, se importa se eu comer?"

Com o coração tocado pela óbvia necessidade do menino, Padre Cordero imediatamente o levou à fila do buffet, convidando-o a escolher o que quisesse. Ignorando os olhares de desaprovação dos garçons, ele então guiou o menino à sua própria mesa. Mas em vez de sentar-se e devorar o banquete à sua frente, o menino disparou para fora do restaurante.

Intrigado pelo comportamento estranho do maltrapilho, o gentil Cordero esperou para ver o desenrolar das coisas.

O menino voltou poucos minutos depois — desta vez com dois outros garotos desgrenhados, que se arrastavam timidamente atrás dele. Ele queria compartilhar sua boa sorte com seus amigos.

Ao comerem, explicaram o que o Padre Cordero já imaginava: Tinham vindo de famílias pobres que vivem nas favelas poeirentas nos arredores de Lima, para onde dez mil pessoas, como seus pais, tinham imigrado dos vilarejos das montanhas e da região amazónica em busca de emprego. Os meninos ajudavam suas famílias a tentar sobreviver lavando carros em estacionamentos de restaurantes, na esperança de receberem gorjetas dos proprietários dos carros quando estes retornassem.

Defronte de tamanha necessidade, Padre Cordero sentiu Jesus falar com ele. Sua vida nunca mais seria a mesma.

Cordero decidiu estabelecer um centro para meninos — um lugar onde eles poderiam se libertar dos 'pesos' da vida, os quais nenhuma criança de sua idade deveria carregar. Havia apenas um problema: O bom padre não tinha nada com o que começar — nenhuma terra, prédio, fundo para construção nem patrocinador.

Ele, porém, acreditava na oração e, em resposta às suas orações, o prefeito de um subúrbio de Lima ofereceu a Cordero um lote de 5.000 m2 (1.25 acres) de terra municipal na qual construir. Conforme a notícia se espalhou, patrocinadores generosos doaram materiais de construção.

No entanto, nem tudo transcorreu conforme planejado. Os residentes da área abastada onde o centro estava localizado reclamaram sobre as crianças imundas que agora estavam infiltradas em sua vizinhança, vindas das favelas, e preencheram uma petição junto ao município. Como resultado, foi requerido que o Padre construísse um muro alto, de aproximadamente 300 m (1.000 pés) de comprimento, ao redor da propriedade, que naquela época continha uma escola e alguns outros prédios para as crianças. Cordero não queria que o seu centro fizesse os meninos se sentirem confinados, mas logo percebeu que o muro seria para o benefício deles; lhes daria mais liberdade para serem eles mesmos ao estudarem e brincarem.

Para construir o muro, Cordero precisava de 23 mil blocos de argila. O dono de uma fábrica lhe ofereceu 1.000. Isso certamente era um começo, mas onde conseguiria o restante? Ao discutir os detalhes com o proprietário da fábrica, um cliente descontente invadiu o escritório e insistiu em devolver um grande pedido de blocos, que não haviam cumprido suas expectativas — todos os 23.000 blocos.

O centro do Padre Cordero, Instituto Roncalli del Perú, tem presenciado outros milagres desde sua abertura, em 1987. O maior deles é as jovens vidas que vêm sendo transformadas através do amor, fé e orações de Cordero, agora com 80 anos de idade, e que continua a supervisionar as operações diárias do centro.

Deus não cria santos do nada; Ele os cria de carne e osso, pessoas normais que O amam e que Lhe permitem usá-las.

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